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sábado, 25 de maio de 2013

A Religião Evangélica e as Telenovelas da Rede Globo



Por Lucila Paixão
Com princípios cristãos, a religião evangélica possui como única fonte de aprendizado religioso a Bíblia. Os evangélicos acreditam que através dos ensinamentos bíblicos, compreendendo-os e aplicando-os, é possível estar sempre próximo a Deus.
Culturalmente, os cultos evangélicos acontecem com muita pregação, música e muito louvor. Oferecem trocas de conhecimento entre Templos através de encontros e passeios. Organizam shows Gospel, música em louvor a Deus, e atividades para unir mais os jovens e adultos da religião.
A religião é dividida em vários segmentos, como a Pentecostal, Batista, Testemunha de Jeová, entre outros, todas elas têm em comum a doutrina cristã e a busca de Deus através da Bíblia e possuem distinções quanto à rigidez e ao modo de interpretação dos textos bíblicos.
Devido à cultura de massa, em especial as telenovelas da Rede Globo, os evangélicos, em especial as mulheres, ficaram estigmatizados como pessoas que se vestem com tons fechados e com roupas sem vida e sem combinação; pelo jeito puritano, marcado pela presença da Bíblia, normalmente dentro de uma capa protetora preta e pela forma séria e tímida de falar, sempre focando os ensinamentos adquiridos na religião.
As personagens femininas dessas telenovelas apresentam mulheres que além de se vestirem “em luto”, possuem sempre algum problema afetivo, vivem falando da vida alheia e se revelam abertas sexualmente para aventuras. É o caso da personagem Dolores, interpretada por Paula Burlamaqui, na novela Avenida Brasil. Evangélica, recatada, vive falando no Senhor e se veste de forma casta. A personagem escondia um passado conturbado, além de ter deixado o marido com um filho de colo, era atriz pornô, conhecida como Soninha Catatau. Quando volta para a cidade, já evangélica, sempre que se aproximava do seu ex-marido, Diógenes, interpretado por Otávio Augusto, sentia ressurgir a Soninha Catatau e desaparecer toda a fé da Dolores. A personagem transmite uma ideia falsa das mulheres evangélicas, além da caricatura figurinista, colocam-na como uma mulher de pouca fé e de falsos princípios, já que acaba se desvencilhando deles para se entregar as coisas mundanas.
Dolores (Paula Burlamaqui)                                                            Soninha Catatau (Paula Burlamaqui)

 

Outra personagem que trata das fies evangélicas de forma caricatural é a Ivone dos Anjos, interpretada por Christiana Kalache, diarista, é uma evangélica típica das telenovelas brasileiras, com roupas sem combinação, neutra, se apresenta sem vida, tímida, devagar e de fala mansa. Atualmente existem fabricas de modas específicas para mulheres evangélicas, com combinações, cores e formatos diversos. A mulher evangélica não é essa mulher pacata e submissa, transmitida pela televisão. A timidez e a submissão são características alheias à condição de ser ou não ser evangélica, são propriedades individuais, não podendo caracterizar um conjunto de indivíduos de uma mesma religião.
Ivone dos Anjos (Christiana Kalache)

 
Na novela América, temos ainda a personagem Creusa, que teve como interprete a atriz Juliana Paes. A Creusa é uma mulher religiosa que ainda não se definiu, vive entre os cultos e as missas, reprovando o comportamento alheio e estabelecendo morais para conduta “correta” das pessoas, no entanto, dissimulada, gosta de atrair homens, até aqueles que ela não conhece, e viver aventuras sexuais. Quanto mais a personagem vive passeando entre relações mundanas, melhor se mostra beata, até ser desmascarada por outras fies. Essa personagem demonstra a falta de senso moral e ético das telenovelas pela falta de responsabilidade e comprometimento com os aspectos da sociedade com que tem tentado lidar. Como a Creusa não tem uma religião definida e transita entre a Católica e a Protestante, ela trás em si o peso de representar as duas instituições religiosas, indicando a falta de moral, ética e religiosidade das mulheres que ela esta representando. Podemos observar também que a telenovela se inclina a demonstrar que a mulher que é religiosa fervorosa, beata, é aquela que mais tem inclinações a cometer pecados, pois quanto mais a personagem passeia entre o meio sacro e o meio profano, mais ela se mostra cheia de fé.
Creusa (Juliana Paes)

 
Essas caricaturas tem permeado a imaginação dos telespectadores, mas a mulher evangélica atual é bem diferente dessa que a televisão faz questão de anunciar. Bonitas, bem vestidas, normalmente com cores alegres, as mulheres evangélicas são recatadas e vaidosas, normalmente namoram pessoas que seguem a mesma religião, sendo, portanto, completamente diferentes das personagens que as representam nas telenovelas.
Clara Rosa Moda Evangélica                                                         Facínius Moda Evangélica

 
         

A caricatura dessas mulheres, pelas telenovelas, pode ser explicada pela diferença cultural existente entre quem é e quem não é evangélico, ou seja, pelo reconhecimento das diferenças entre as pessoas que seguem a religião e as que não seguem. A consideração dessa diferença cultural, através da sátira, torna-a negativa e pejorativa, denegrindo a imagem do religioso evangélico.
Em Salvador, mesmo com a modificação visual do evangélico, ainda é muito comum o estereótipo do evangélico divulgado pela televisão nas ruas da cidade e nos cultos, devido a forte influência que ela exerce na sociedade, a televisão informa que o padrão de evangélico é aquele, não permitindo ao mesmo abertura para as novas tendências evangélicas.
De acordo com Laraia, cultura é o resultado da interação do homem com o meio e com as pessoas que o cercam. É o processo de aprendizagem de signos e significados, verdades, estabelecidas em conjunto pela sociedade da qual o individuo faz parte.
A falta de sensibilidade das telenovelas com as mulheres evangélicas demonstra a intolerância e a não aceitação de outras religiões como parte da sociedade, aumentando a sua vulgarização, o preconceito e a rejeição pelos telespectadores, devido a grande influência que a mídia exerce sobre as massas.
Do mesmo jeito que a religião evangélica sofre preconceito devido a essa caricatura negativa, a religião católica é estigmatizada pela beata que toma conta da vida alheia e o Candomblé pela representação de falsos Pais de Santo, gananciosos.
A cultura está sempre em processo de transformação, nunca será estagnada e sempre será geral e específica de um determinado grupo, existindo, num mesmo ambiente, várias culturas, ou seja, um mundo multicultural. Perceber a existência da diversidade cultural é entender que não existe verdade absoluta. Respeita-la é compreender o direito de cada individuo tem de exercê-la.

REFERÊNCIAS

LARAIA, Roque Barros. Cultura. In. Antropologia e Direito – temas antropológicos para estudos jurídicos. São Paulo, ABA, Laced, Nova Letra. 2012.
Consulta ao perfil das personagens das telenovelas da Rede Globo. Disponível em <http://memoriaglobo.globo.com/>, acessado em 05/05/2013.
 

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