Por Lucila Paixão
Com princípios cristãos, a religião
evangélica possui como única fonte de aprendizado religioso a Bíblia. Os
evangélicos acreditam que através dos ensinamentos bíblicos, compreendendo-os e
aplicando-os, é possível estar sempre próximo a Deus.
Culturalmente, os cultos evangélicos
acontecem com muita pregação, música e muito louvor. Oferecem trocas de
conhecimento entre Templos através de encontros e passeios. Organizam shows
Gospel, música em louvor a Deus, e atividades para unir mais os jovens e
adultos da religião.
A religião é dividida em vários
segmentos, como a Pentecostal, Batista, Testemunha de Jeová, entre outros,
todas elas têm em comum a doutrina cristã e a busca de Deus através da Bíblia e
possuem distinções quanto à rigidez e ao modo de interpretação dos textos
bíblicos.
Devido à cultura de massa, em especial
as telenovelas da Rede Globo, os evangélicos, em especial as mulheres, ficaram
estigmatizados como pessoas que se vestem com tons fechados e com roupas sem
vida e sem combinação; pelo jeito puritano, marcado pela presença da Bíblia,
normalmente dentro de uma capa protetora preta e pela forma séria e tímida de
falar, sempre focando os ensinamentos adquiridos na religião.
As
personagens femininas dessas telenovelas apresentam mulheres que além de se
vestirem “em luto”, possuem sempre algum problema afetivo, vivem falando da
vida alheia e se revelam abertas sexualmente para aventuras. É o caso da
personagem Dolores, interpretada por Paula Burlamaqui, na novela Avenida Brasil.
Evangélica, recatada, vive falando no Senhor e se veste de forma casta. A
personagem escondia um passado conturbado, além de ter deixado o marido com um
filho de colo, era atriz pornô, conhecida como Soninha Catatau. Quando volta para
a cidade, já evangélica, sempre que se aproximava do seu ex-marido, Diógenes,
interpretado por Otávio Augusto, sentia ressurgir a Soninha Catatau e
desaparecer toda a fé da Dolores. A personagem transmite uma ideia falsa das
mulheres evangélicas, além da caricatura figurinista, colocam-na como uma
mulher de pouca fé e de falsos princípios, já que acaba se desvencilhando deles
para se entregar as coisas mundanas.
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Outra personagem que trata das fies evangélicas de forma caricatural é a Ivone dos Anjos, interpretada por Christiana Kalache, diarista, é uma evangélica típica das telenovelas brasileiras, com roupas sem combinação, neutra, se apresenta sem vida, tímida, devagar e de fala mansa. Atualmente existem fabricas de modas específicas para mulheres evangélicas, com combinações, cores e formatos diversos. A mulher evangélica não é essa mulher pacata e submissa, transmitida pela televisão. A timidez e a submissão são características alheias à condição de ser ou não ser evangélica, são propriedades individuais, não podendo caracterizar um conjunto de indivíduos de uma mesma religião.
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Na novela América,
temos ainda a personagem Creusa, que teve como interprete a atriz Juliana Paes.
A Creusa é uma mulher religiosa que ainda não se definiu, vive entre os cultos
e as missas, reprovando o comportamento alheio e estabelecendo morais para
conduta “correta” das pessoas, no entanto, dissimulada, gosta de atrair homens,
até aqueles que ela não conhece, e viver aventuras sexuais. Quanto mais a personagem
vive passeando entre relações mundanas, melhor se mostra beata, até ser
desmascarada por outras fies. Essa personagem demonstra a falta de senso moral
e ético das telenovelas pela falta de responsabilidade e comprometimento com os
aspectos da sociedade com que tem tentado lidar. Como a Creusa não tem uma
religião definida e transita entre a Católica e a Protestante, ela trás em si o
peso de representar as duas instituições religiosas, indicando a falta de
moral, ética e religiosidade das mulheres que ela esta representando. Podemos
observar também que a telenovela se inclina a demonstrar que a mulher que é
religiosa fervorosa, beata, é aquela que mais tem inclinações a cometer
pecados, pois quanto mais a personagem passeia entre o meio sacro e o meio profano,
mais ela se mostra cheia de fé.
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Essas caricaturas tem permeado a
imaginação dos telespectadores, mas a mulher evangélica atual é bem diferente
dessa que a televisão faz questão de anunciar. Bonitas, bem vestidas,
normalmente com cores alegres, as mulheres evangélicas são recatadas e vaidosas,
normalmente namoram pessoas que seguem a mesma religião, sendo, portanto, completamente
diferentes das personagens que as representam nas telenovelas.
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A caricatura dessas mulheres, pelas
telenovelas, pode ser explicada pela diferença cultural existente entre quem é
e quem não é evangélico, ou seja, pelo reconhecimento das diferenças entre as
pessoas que seguem a religião e as que não seguem. A consideração dessa
diferença cultural, através da sátira, torna-a negativa e pejorativa,
denegrindo a imagem do religioso evangélico.
Em Salvador, mesmo com a modificação
visual do evangélico, ainda é muito comum o estereótipo do evangélico divulgado
pela televisão nas ruas da cidade e nos cultos, devido a forte influência que
ela exerce na sociedade, a televisão informa que o padrão de evangélico é
aquele, não permitindo ao mesmo abertura para as novas tendências evangélicas.
De acordo com Laraia, cultura é o
resultado da interação do homem com o meio e com as pessoas que o cercam. É o
processo de aprendizagem de signos e significados, verdades, estabelecidas em
conjunto pela sociedade da qual o individuo faz parte.
A falta de sensibilidade das
telenovelas com as mulheres evangélicas demonstra a intolerância e a não aceitação
de outras religiões como parte da sociedade, aumentando a sua vulgarização, o preconceito
e a rejeição pelos telespectadores, devido a grande influência que a mídia
exerce sobre as massas.
Do mesmo jeito que a religião
evangélica sofre preconceito devido a essa caricatura negativa, a religião
católica é estigmatizada pela beata que toma conta da vida alheia e o Candomblé
pela representação de falsos Pais de Santo, gananciosos.
A cultura está sempre em processo de
transformação, nunca será estagnada e sempre será geral e específica de um
determinado grupo, existindo, num mesmo ambiente, várias culturas, ou seja, um
mundo multicultural. Perceber a existência da diversidade cultural é entender
que não existe verdade absoluta. Respeita-la é compreender o direito de cada
individuo tem de exercê-la.
REFERÊNCIAS
LARAIA, Roque Barros. Cultura. In. Antropologia e Direito – temas antropológicos para estudos jurídicos.
São Paulo, ABA, Laced, Nova Letra. 2012.
Consulta
ao perfil das personagens das telenovelas da Rede Globo. Disponível em <http://memoriaglobo.globo.com/>, acessado em 05/05/2013.

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