Por Lúcia Sena
O Espiritismo é uma doutrina criada por um pedagogo – Allan Kardec - na
França no sec.XIX. Esta doutrina considera a morte apenas uma etapa da evolução
pessoal e acredita na vida em outras dimensões. Segundo alguns adeptos dessa
doutrina, seus ensinamentos foram revelados pelos espíritos superiores a Allan
Kardec, a codificou em cinco obras: O livro dos Espíritos (1857), O livro dos
Médiuns (1859), O Evangelho Segundo o Espiritismo (1863), O céu e o Inferno e a
Gênese (1868).
Allan Kardec, seu iniciador, fundou na própria casa um curso gratuito de
Química, Física, Anatomia e outras ciências que galvanizaram as mentes curiosas
do sec. XIX e ajudaram a preparar o terreno para as revoluções científicas da
nossa era. Por essa razão que, desde o início do movimento espírita, ele sempre
fez questão de apresentar um vocabulário inspirado nas ciência. Eventos como
comunicação com os espíritos e o movimento de objetos sem ação humana aparente,
assim como, a identificação explícita
com o método de dedução científica foi uma tentativa de livrar o Espiritismo da
pecha de irracionalidade num tempo em
que a Razão era um verdadeiro dogma.
O Espiritismo chegou ao Brasil em
1860,adotado por intelectuais militares e funcionários públicos. Mas, esta
doutrina sofreu perseguições por se diferenciar da religião cristã no tocante a
reencarnação e na concepção de que Jesus não é filho de Deus e sim um espírito
mais evoluído. O Código Penal de 1890 classificava o Espiritismo como crime.
Apesar disso, a doutrina espírita se fortalecia e expunha a população um dos
seus lados mais meritório: a caridade.
O trabalho Espírita não se atém
somente à doutrinação. A essência do espiritismo é levar às pessoas a se
reconhecerem como indivíduos atuantes na sociedade e conscientes do seu papel
nas relações com o outro e no mundo. Para organizar e sistematizar os trabalhos
sociais na Bahia foi criada, desde 1915, a Federação Espírita do Estado da
Bahia (FEEB). É uma associação civil, sem fins lucrativos, religiosa e
beneficente com personalidade jurídica
de direito privado, reconhecida como entidade de Utilidade Pública Federal de
caráter Federativo, Doutrinário, Educacional, Assistencial e Cultural. Esta
instituição se localiza no Pelourinho, bairro Praça da Sé.
A sede consta de ambulatórios,
consultórios médicos, enfermagem, gabinete odontológico, farmácia, auditório,
sala de esterilização e outras dependências que são utilizadas para o
atendimento de pessoas carentes da região.
Este espaço atende famílias em situação de pobreza, onde o desemprego, o
alcoolismo e as drogas são fatores de desagregação familiar. As crianças, adolescentes e jovens apresentam
baixo rendimento escolar que lhes dificulta o acesso à educação continuada e ao
emprego, tornando-os vulneráveis às substâncias psicoativas. O atendimento se
estende também às pessoas idosas, doentes e desamparadas pela família, que se
tornam mendigos e moradores de rua.
A FEEB realiza atividades e projetos
que buscam a igualdade de acesso da população carente à educação, saúde,
cidadania, qualificação profissional e inserção ao mercado de trabalho. Tem a finalidade de promover a autonomia
destas pessoas.
A ações desenvolvidas são continuadas, planejadas e gratuitas. Seguem os
preceitos fixados pelas LOAS (Lei Orgânica de Assistência Social) de 1993 e da
Política Nacional de Assistência Social (PNAS) de 2004.
Para a realização desses trabalhos, a FEEB conta com uma equipe de
voluntários que treinados, formam o corpo de multiplicadores da área social do
Movimento Espírita da Bahia.
É louvável os trabalhos sociais desenvolvidos por entidades espíritas
espalhadas pela cidade de Salvador. Outras instituições bastante conhecidas são
A mansão do Caminho e a. A cidade da Luz cujos trabalhos são reconhecidos por
todo Brasil e até no exterior.
Será necessário que entidades religiosas também cumpram esse papel
social e não deleguem apenas ao Estado. Afinal, não se exercita a fé sem a
caridade. E a ação da caridade se traduz em trabalhos que transformem o ser
humano em todos os sentidos: material, moral e espiritual.
A DOUTRINA ESPÍRITA AUXILIANDO
A PSICOLOGIA
ENTREVISTA:

Psicóloga: Marília Sena Barbosa
CRP: 03/IP1258
- Para você o que é a doutrina
Espírita Kardecista?
- É um modo de enxergar a sua
relação com o mundo e com as pessoas. É uma busca de entender o que é a vida e
o que existe além dela.
- O que te levou a ingressar no Centro Espírita?
- Foi a necessidade que senti durante a minha formação como
psicóloga e após alguns estudos sobre o
assunto, de entender a vida. Essa relação de entender o que é a vida e a morte.
Trabalhar um pouco a minha fé. Então, quando eu entrei para a doutrina, eu vi
que aquilo me completava, tanto no aspecto pessoal, quanto no profissional,
assim como no entendimento da vida. Daí, é claro, que comecei a seguir a
doutrina espírita.
- Há quanto tempo você frequenta o centro Espírita?
- Há dois anos.
- Você é Psicóloga. Em sua prática profissional já teve alguma
experiência com a doutrina espírita?
- Já, sim. Trabalhei quase um ano
no hospital. O trabalho do psicólogo no hospital é peculiar. É pouco diferente
de outros trabalhos em outras instituições. Porque diariamente o psicólogo vai
lidar com questões que se relacionam com a vida, com o adoecimento, com a
eminência de morte, perdas e luto. Com alguns aspectos de mecanismos de defesa
e enfrentamento em situações de risco. Então, foi durante essas experiências
dentro do hospital que eu tive a necessidade de trabalhar meu lado espiritual.
Durante meu trabalho no hospital, houve
um caso de uma paciente que eu procurei utilizar o que ela trazia em relação a sua
fé. No que dizia respeito à sua religião para que eu fizesse a intervenção diante da
situação em que se encontrava.
Nesse sentido, busquei os recursos que o paciente tinha para utilizar sua fé
numa situação de enfrentamento. Assim, durante os atendimentos, eu reforçava
estes recursos para que ela se sentisse fortalecida a fim de enfrentar uma
situação de risco eminente. Ressignificando então esta situação.
- Você tem algum caso para
exemplificar?
- Eu atendi uma paciente no hospital, que trazia durante os atendimentos
um ressentimento em relação ao médico que lhe havia operado. O profissional
cometeu um erro médico durante a cirurgia e por isso, ela o culpava. A
paciente, por causa de tal erro, teve que refazer a cirurgia e portanto se
encontrava pela segunda vez na UTI. Por causa disso, a mesma não conseguia
perdoa-lo. Após alguns atendimentos e trabalhar algumas questões, a paciente
revelou que seguia a doutrina espírita. Como eu tenho conhecimento da filosofia
espírita, eu utilizei os recursos que ela apresentou como meio terapêutico.
À partir desta intervenção, ela
teve um grande progresso na terapia, teve alta da UTI e ao visita-la no
apartamento do hospital, já estava melhor em relação ao médico em relação a
internação , ao processo de adoecimento. Então, a doutrina Espírita foi um
recurso utilizado naquela situação. Em momentos em que o psicólogo lida com
situações de risco eminente, de adoecimento da alma, esta questão da fé ou de
uma religião ou qualquer outra filosofia, são exacerbados, já que às vezes é o
único recurso que o paciente tem para enfrentar suas questões de sofrimento.
Logo, o trabalho do psicólogo tem que considerar as questões que envolve a fé.
Obviamente, respeitando a crença de cada
um.
- Como a ética permeia a prática da psicologia
no tocante à religião?
- Eu acho que a ética
profissional tem por base seus princípios. Toda a atuação do psicólogo tem que
permear os princípios que vão desde que
o psicólogo deve basear seu trabalho no respeito e na promoção da liberdade e
dignidade do ser humano, até o pautado na Declaração Universal dos Direitos
Humanos, atuando com responsabilidade social, de forma crítica , respeitando os
princípios do código de ética do profissional. Portanto, é descrito neste
código, que é vedado ao profissional de psicologia , induzir o paciente a
seguir a convicção filosófica , religiosa ou política, moral ideológica e
outras. Assim, o psicólogo deve utilizar dos próprios recursos que o
paciente carrega para facilitar o seu trabalho terapêutico.
Bibliografias
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