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sábado, 25 de maio de 2013

SACRIFÍCIO DE ANIMAIS NO CANDOMBLÉ

Por Raíssa Maeve

Recentemente um Projeto de Lei apresentado pelo vereador Marcell Moraes (PV) causou revolta aos membros de religiões de matrizes africanas, o projeto previa a criminalização dos sacrifícios e /ou mutilações de animais nos cultos religiosos. Alegando a defesa dos animais, o PL 308/2013, foi considerado por muitos ialorixás, advogados, antropólogos e parte da população baiana como um ato de desrespeito e intolerância religiosa.



Diante dessa polêmica que surgiu a partir do Projeto de Lei do vereador Marcell Moraes toda a sociedade (ou parte dela) buscou entender melhor como funciona o sacrifício nos rituais religiosos, mais especificamente no candomblé.


No candomblé, esta parte do ritual denominada de sacrifício não é propriamente secreta; porém não se realiza senão diante de um reduzido número de pessoas, todos fiéis da religião (vale ressaltar que as  crianças não presenciam o sacrifício dos animais como foi dito pelo então vereador Marcell Moraes).


Uma pessoa especializada no sacrifício, o Axogun, que tem tal função na hierarquia sacerdotal, é quem o realiza ou, na sua falta o babalorixá. O Axogun não pode deixar o animal sentir dor ou sofrer porque a oferenda não seria aceita pelo Orixá. O objeto do sacrifício, que é sempre um animal, muda conforme o Orixá ao qual é oferecido; trata-se, conforme a terminologia tradicional, ora de um animal de duas patas, ora de um animal de quatro patas, galinha, pombo, bode, carneiro. Na realidade não se trata de um único sacrifício: sempre que se fizer um sacrifício a qualquer Orixá, deve ser antes feito um para Exú, o primeiro a ser servido.


Esse sacrifício não é só uma oferenda aos Orixás. Todas as partes do animal vão servir de alimento, nada é jogado fora. O couro do animal é usado para encourar os atabaques, o animal inteiro é limpo e cortado em partes, algumas partes são preparadas para os Orixás e o restante é destinado aos demais. Tudo é aproveitado: até a porção oferecida aos Orixás é posteriormente distribuída entre os filhos da casa como o inché do Orixá. É usada para confraternização: unem-se os filhos a comer com o pai ou mãe, havendo repartição do Axé gerado pelo Orixá. (Acredita-se que após algum tempo que a comida esteja no Peji ela fica impregnada pelo Axé do Orixá). O sacrifício no candomblé é a renovação do Axé, feito uma vez por ano para cada Orixá da casa ou em circunstâncias especiais.


Percebe-se que não se trata de uma ação aleatória e indiscriminada, os adeptos do candomblé não sacrifica os animais por maldade, trata-se de um aspecto cultural de longa data.


Em defesa da religião e contra o PL do vereador estava José Medrado, líder religioso, que afirmou: “Gente, é preciso conhecer, para não satanizar a religião de ninguém. Antes de espernear, leia. No candomblé existem as obrigações, nas quais os animais são “sacro-oficiados” para um Orixá. Quem faz o sacrifício é um sacerdote treinado e especializado, chamado Axogun, ou Azogun ou Azogue (da onde vem nossa palavra “Açougue”), que tem uma função extremamente importante na hierarquia do templo. O axogum não pode deixar o animal sentir dor ou sofrer de maneira alguma, porque senão a oferenda não será aceita pelo Orixá. O objeto do sacrifício, que é sempre um animal, muda conforme o Orixá ao qual é oferecido; trata-se, conforme a terminologia tradicional, ora de um animal de duas patas, ora de um animal de quatro patas (galinha, pombo, bode, carneiro, pato...)”, outro que se posicionou sobre o assunto foi o antropólogo, pesquisador e Professor da UFBa, Ordep Serra, segundo ele o sacrificador é uma pessoa preparada e todo sacrifício é feito reservadamente. Todos os animais sacrificados nos rituais são consumidos pelos que participam da festa, só que a diferença para um restaurante, por exemplo, é que é feita uma reza para oferecer aos orixás. “Não é um ato bárbaro. Os animais são consumidos por quem comparece, só que é proferido aos orixás”. 


O Projeto de Lei 308/2013 foi julgado inconstitucional e rejeitado pela  Comissão de Justiça e Cidadania da Câmara de Vereadores.



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