Translate

sábado, 25 de maio de 2013

Intolerância religiosa: a sociedade baiana, o negro e o candomblé.



Por Laís Barreto
Os Jejes da costa de Daomé  e os povos Iorubas da Nigéria que eram adeptos do candomblé introduziram o candomblé no Brasil, pois, com isso, os cultos de origem africana, ao serem introduzidos no Brasil sofreram um processo de aculturamento e adaptação. Os povos Bantos do Sudeste africano se juntaram a eles adotando o mesmo ritual e com isso, contribuíram para que algumas modificações fossem introduzidas também, sendo que além dessas, outras modificações foram incorporadas ao candomblé, por conta da questão do colonialismo português  que nessa época, proibia os cultos de origem africana podendo apenas ser cultuada a religião católica, ou seja,  o negro se viu obrigado a formular suas próprias medidas estratégicas como um modo para elevar-se diante de um sistema imposto na época reagindo contra essa sociedade que o colocava frente a um posicionamento inferior socialmente abusando das distintas maneiras de negociação para superar todas essas dificuldades criadas pela classe dominante contra o surgimento de uma religião popular capaz de quebrar a supremacia da religião católica não sendo somente vítima do sistema social e da classe dominante. O negro na sociedade baiana do século passado enfrentou diversas dificuldades quanto á sua ascensão social no que diz respeito á questões relacionadas a sua conquista no espaço em que se encontravam os seus objetivos.  Os elementos caracterizadores da sociedade e da cultura baiana refletem atualmente certos resquícios do passado em tentativas de, no século XX a sociedade baiana ter reagido contra a inclusão do negro na sociedade, onde também podemos perceber alguns tratados de cunho ”científico” objetivando construir uma imagem inferior ao afrodescendente. Em meio a essa conjuntura, os escravos que chegavam ao Brasil eram ensinados a seguir os princípios da religião católica e cultuá-los, mas quando os escravos cultuavam esses santos acabavam na verdade cultuando e identificando com o seu orixá: os negros escravos fingiam rezar em sua língua de origem para Santa Bárbara onde na verdade estavam cultuando seu para o orixá Iansã. A mesma coisa acontece com o santo Senhor do Bonfim sendo identificado como Oxalá, na qual denominamos de “sincretismo religioso”. Essa Identificação acabou por se tornar habitual dentre os cultos religiosos relacionados ao catolicismo e ao candomblé, pois mesmo depois de  ser oficializada a liberdade religiosa  as imagens dos santos católicos acabaram sendo incorporadas aos rituais afro-brasileiros. A liturgia Jeje-Nagô foi simbolizada no processo de nacionalização das religiões africanas se tornando menos rígida dando origem a outros grupos religiosos que propriamente criaram os rituais Angola e Congo. O candomblé de caboclo também se deu por esse processo de incorporação e mistura de negros Bantos mulatos brasileiros e índios.            Existem poucas casas de candomblé puro no Brasil, concentradas principalmente na Bahia. O candomblé na Bahia foi reconhecido oficialmente como religião em 15 de Janeiro de 1976, pelo governador Da Bahia Roberto Santos embora os primeiros terreiros sejam tenham princípio no século passado, mas só nesse momento estava liberada a prática religiosa do candomblé. Dentre alguns terreiros importantes e de relevância histórica na Bahia, temos um dos principais que são o Ilê Axé Opô Afonjá que teve sua origem no Bairro do Engenho Velho, e a princípio, conta Mãe Stella que “A tradição conta que três negras de nomes Yyá Detá, Iyá Akalá e Yiá Nassô, criaram um terreiro de candomblé.” E o terreiro Tauá, localizado no Bairro de Itinga (município de Lauro de Freitas) fundando na década de 70, pelo pai de santo Adailton, contemporâneo de Olga de Alaketu, mãe menininha do Gantois.
As práticas religiosas tradicionais, originalmente africanas foram rejeitadas por serem consideradas práticas de feitiçaria e falsa medicina (esse era o meio de a justiça justificar a perseguição aos candomblés para condenar os adeptos da religião afro-brasileira e a própria religião, por isso se deveria provocar um afastamento do meio social) Mães e Pais de Santo tinham o devido conhecimento dessas plantas medicinais  e sabiam de suas qualidades e onde deveria ser utilizada para muitas doenças. A população de classe baixa obtinha essas plantas nos seus próprios quintais no fundo de suas casas e era atendida uma população carente de assistência médico-hospitalar, essa prática era tida como falsa medicina, um dos grandes motivos para se perseguir o candomblé. Ocorriam também as “batidas” gerais em que a polícia passava nos bairros a procura de casas que cultuavam o candomblé, chegando lá os policiais davam voz de prisão levando muitas pessoas á delegacia, os objetos do culto apreendidos eram destruídos ou levados ao instituto histórico geográfico, onde eram colocados “as bugigangas e os traços” (Ver Ângela Luhning, revista USP nº 28, pag.201). Na década de 1950 começa-se a perceber a mobilização da população negra se mobilizando melhor em face de sua cultura e interesses, as batidas policiais são menos frequentes por esse motivo, deixando a religião de ter seu caráter essencial e se vendo num grande processo de industrialização devido também ás respectivas mudanças nos padrões sociais. Nessa mesma década de 1950, teve-se um novo tipo de opressão em que policiais obrigavam os terreiros de candomblé a se ficharem na delegacia de jogos e costumes da Secretaria de Segurança Pública, se exigia uma solicitação de uma licença para que se pudesse realizar cerimônias religiosas e obedecer, a um calendário litúrgico estabelecido interiormente. Os que não obtivessem a licença,  e sem ela realizassem suas festas, corria o risco de ter seu terreiro invadido.                                      Atualmente, temos uma disputa religiosa por parte, principalmente das igrejas “neopentecostais” em que a intolerância na prática desses cultos é tamanha, marcada por graves conflitos e até mesmo agressões físicas, um exemplo claro e evidente é o da igreja universal do reino de Deus (essas igrejas na década de 1980 têm como objetivo principal acabar com a religião afro-brasileira, atribuindo a figura do “demônio” ás manifestações candomblecistas e usam o candomblé como um manifesto negativo tendo os seus fiéis como inimigos retratando o temor da “magia negra”.).                                                                            Sabemos que a ética é um meio onde os homens procuram viver bem para com suas atitudes e com os outros respeitando os valores de outrem e a moral, é a obediência dessas normas sociais á que o homem vive atrelado, mas, partindo de um princípio ético e moral, até que ponto a influência de valores religiosos podem impor certos valores e contradições a outro princípio religioso, afim de que tenham seus princípios feridos e modificados? Até onde vai a obediência dessas “leis morais”? Podemos perceber que, a intolerância religiosa é uma questão bastante ampla e que emana de uma real transgressão desses valores éticos e morais, pois, fere princípios humanos (alguém se sentirá lesado com o desrespeito da opinião alheia) e, certamente, faz com que a sua ira também retribua o mesmo desrespeito.                        Partindo de uma questão sócio antropológica, vemos que a formação desses grupos étnicos africanos, até chegar á Bahia, por ter sofrido um processo de aculturamento muito grande incorporando valores de outros povos africanos formou-se o que temos hoje na Bahia: terreiros que não são puros, etnicamente.

Laís Barreto Santana

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Projeto de pesquisa: Candomblé e a intolerância religiosa. (Bahia: 1990-2006). Dezembro/2007. Cristiane Carvalho Santana

Nova Enciclopédia Ilustrada Folha Vol. II

Nenhum comentário:

Postar um comentário