Por Laís Barreto
Os Jejes da costa de Daomé e os povos Iorubas da Nigéria que eram
adeptos do candomblé introduziram o candomblé no Brasil, pois, com isso, os
cultos de origem africana, ao serem introduzidos no Brasil sofreram um processo
de aculturamento e adaptação. Os povos Bantos do Sudeste africano se juntaram a
eles adotando o mesmo ritual e com isso, contribuíram para que algumas
modificações fossem introduzidas também, sendo que além dessas, outras
modificações foram incorporadas ao candomblé, por conta da questão do
colonialismo português que nessa época,
proibia os cultos de origem africana podendo apenas ser cultuada a religião
católica, ou seja, o negro se viu
obrigado a formular suas próprias medidas estratégicas como um modo para
elevar-se diante de um sistema imposto na época reagindo contra essa sociedade
que o colocava frente a um posicionamento inferior socialmente abusando das
distintas maneiras de negociação para superar todas essas dificuldades criadas
pela classe dominante contra o surgimento de uma religião popular capaz de
quebrar a supremacia da religião católica não sendo somente vítima do sistema
social e da classe dominante. O negro na sociedade baiana do século passado
enfrentou diversas dificuldades quanto á sua ascensão social no que diz
respeito á questões relacionadas a sua conquista no espaço em que se
encontravam os seus objetivos. Os
elementos caracterizadores da sociedade e da cultura baiana refletem atualmente
certos resquícios do passado em tentativas de, no século XX a sociedade baiana
ter reagido contra a inclusão do negro na sociedade, onde também podemos
perceber alguns tratados de cunho ”científico” objetivando construir uma imagem
inferior ao afrodescendente. Em meio a essa conjuntura, os escravos que
chegavam ao Brasil eram ensinados a seguir os princípios da religião católica e
cultuá-los, mas quando os escravos cultuavam esses santos acabavam na verdade
cultuando e identificando com o seu orixá: os negros escravos fingiam rezar em
sua língua de origem para Santa Bárbara onde na verdade estavam cultuando seu
para o orixá Iansã. A mesma coisa acontece com o santo Senhor do Bonfim sendo
identificado como Oxalá, na qual denominamos de “sincretismo religioso”. Essa
Identificação acabou por se tornar habitual dentre os cultos religiosos
relacionados ao catolicismo e ao candomblé, pois mesmo depois de ser oficializada a liberdade religiosa as imagens dos santos católicos acabaram
sendo incorporadas aos rituais afro-brasileiros. A liturgia Jeje-Nagô foi
simbolizada no processo de nacionalização das religiões africanas se tornando
menos rígida dando origem a outros grupos religiosos que propriamente criaram
os rituais Angola e Congo. O candomblé de caboclo também se deu por esse
processo de incorporação e mistura de negros Bantos mulatos brasileiros e
índios. Existem poucas casas
de candomblé puro no Brasil, concentradas principalmente na Bahia. O candomblé na
Bahia foi reconhecido oficialmente como religião em 15 de Janeiro de 1976, pelo
governador Da Bahia Roberto Santos embora os primeiros terreiros sejam tenham
princípio no século passado, mas só nesse momento estava liberada a prática
religiosa do candomblé. Dentre alguns terreiros importantes e de relevância
histórica na Bahia, temos um dos principais que são o Ilê Axé Opô Afonjá que
teve sua origem no Bairro do Engenho Velho, e a princípio, conta Mãe Stella que
“A tradição conta que três negras de nomes Yyá Detá, Iyá Akalá e Yiá Nassô,
criaram um terreiro de candomblé.” E o terreiro Tauá, localizado no Bairro de
Itinga (município de Lauro de Freitas) fundando na década de 70, pelo pai de
santo Adailton, contemporâneo de Olga de Alaketu, mãe menininha do Gantois.
As práticas religiosas
tradicionais, originalmente africanas foram rejeitadas por serem consideradas
práticas de feitiçaria e falsa medicina (esse era o meio de a justiça
justificar a perseguição aos candomblés para condenar os adeptos da religião
afro-brasileira e a própria religião, por isso se deveria provocar um
afastamento do meio social) Mães e Pais de Santo tinham o devido conhecimento
dessas plantas medicinais e sabiam de
suas qualidades e onde deveria ser utilizada para muitas doenças. A população
de classe baixa obtinha essas plantas nos seus próprios quintais no fundo de
suas casas e era atendida uma população carente de assistência
médico-hospitalar, essa prática era tida como falsa medicina, um dos grandes
motivos para se perseguir o candomblé. Ocorriam também as “batidas” gerais em
que a polícia passava nos bairros a procura de casas que cultuavam o candomblé,
chegando lá os policiais davam voz de prisão levando muitas pessoas á
delegacia, os objetos do culto apreendidos eram destruídos ou levados ao
instituto histórico geográfico, onde eram colocados “as bugigangas e os traços”
(Ver Ângela Luhning, revista USP nº 28, pag.201). Na década de 1950 começa-se a
perceber a mobilização da população negra se mobilizando melhor em face de sua
cultura e interesses, as batidas policiais são menos frequentes por esse
motivo, deixando a religião de ter seu caráter essencial e se vendo num grande
processo de industrialização devido também ás respectivas mudanças nos padrões
sociais. Nessa mesma década de 1950, teve-se um novo tipo de opressão em que
policiais obrigavam os terreiros de candomblé a se ficharem na delegacia de
jogos e costumes da Secretaria de Segurança Pública, se exigia uma solicitação
de uma licença para que se pudesse realizar cerimônias religiosas e obedecer, a
um calendário litúrgico estabelecido interiormente. Os que não obtivessem a licença, e sem ela realizassem suas festas, corria o
risco de ter seu terreiro invadido. Atualmente,
temos uma disputa religiosa por parte, principalmente das igrejas “neopentecostais”
em que a intolerância na prática desses cultos é tamanha, marcada por graves
conflitos e até mesmo agressões físicas, um exemplo claro e evidente é o da
igreja universal do reino de Deus (essas igrejas na década de 1980 têm como
objetivo principal acabar com a religião afro-brasileira, atribuindo a figura
do “demônio” ás manifestações candomblecistas e usam o candomblé como um
manifesto negativo tendo os seus fiéis como inimigos retratando o temor da
“magia negra”.).
Sabemos que a ética é um meio onde os homens procuram viver bem para com
suas atitudes e com os outros respeitando os valores de outrem e a moral, é a
obediência dessas normas sociais á que o homem vive atrelado, mas, partindo de
um princípio ético e moral, até que ponto a influência de valores religiosos
podem impor certos valores e contradições a outro princípio religioso, afim de
que tenham seus princípios feridos e modificados? Até onde vai a obediência
dessas “leis morais”? Podemos perceber que, a intolerância religiosa é uma
questão bastante ampla e que emana de uma real transgressão desses valores
éticos e morais, pois, fere princípios humanos (alguém se sentirá lesado com o
desrespeito da opinião alheia) e, certamente, faz com que a sua ira também
retribua o mesmo desrespeito. Partindo de uma questão
sócio antropológica, vemos que a formação desses grupos étnicos africanos, até
chegar á Bahia, por ter sofrido um processo de aculturamento muito grande
incorporando valores de outros povos africanos formou-se o que temos hoje na
Bahia: terreiros que não são puros, etnicamente.
Laís Barreto Santana
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Projeto de pesquisa: Candomblé e
a intolerância religiosa. (Bahia: 1990-2006). Dezembro/2007. Cristiane Carvalho
Santana
Nova Enciclopédia Ilustrada Folha
Vol. II
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